Muita gente chega ao consultório dizendo:
“Dra, eu já tentei de tudo para emagrecer e nada funciona.”
Quando vamos investigar mais a fundo, o que encontramos muitas vezes é um corpo inflamado: cansado, com intestino desregulado, sono ruim, muito estresse, alterações hormonais e um histórico de dietas restritivas.
Nessa condição, o organismo entra em modo de defesa. Ele não quer “emagrecer”, ele quer sobreviver.
E é por isso que, para muitos pacientes, o primeiro passo não é cortar calorias, e sim desinflamar o corpo.
O que é um corpo inflamado?
Não estamos falando daquela inflamação aguda, como quando você torce o tornozelo ou está com uma infecção.
Aqui, o foco é a inflamação crônica de baixo grau – um estado em que o corpo vive levemente inflamado, todos os dias, por meses ou anos.
Esse quadro está ligado a:
- excesso de gordura abdominal;
- alimentação rica em ultraprocessados, açúcares e gorduras ruins;
- sono ruim e crônico;
- estresse constante;
- sedentarismo;
- intestino desequilibrado;
- alterações hormonais e metabólicas.
O resultado é um organismo “irritado”, mais resistente à insulina, mais cansado, com mais fome, mais dor e mais dificuldade para perder gordura.
Sinais de que o corpo pode estar inflamado
Os sintomas podem variar, mas, na prática clínica, alguns sinais chamam atenção:
- cansaço excessivo, mesmo dormindo “a noite inteira”;
- dificuldade para emagrecer, mesmo comendo pouco;
- ganho de peso principalmente na região abdominal;
- intestino preso ou muito desregulado;
- dores articulares frequentes;
- inchaço, sensação de “peso” no corpo;
- sono não reparador;
- fome emocional e vontade constante de doces e carboidratos.
Sozinhos, esses sinais não fecham diagnóstico, mas acendem o alerta de que algo está acontecendo além do “comer demais”.
Por que é tão difícil emagrecer com o corpo inflamado?
Quando o corpo está inflamado, vários mecanismos ligados ao peso ficam desorganizados:
- Hormônios da fome e saciedade (como leptina e grelina) se desequilibram, e a pessoa sente mais fome e menos saciedade.
- Resistência à insulina aumenta, facilitando o acúmulo de gordura, especialmente na barriga.
- Metabolismo desacelera, o corpo gasta menos calorias.
- Massa muscular tende a cair, o que piora ainda mais o gasto energético.
- O nível de estresse e cortisol sobe, favorecendo acúmulo de gordura e compulsão alimentar.
Ou seja: um corpo inflamado é um corpo que segura o peso, não que “ajuda” a emagrecer.
Por isso, insistir em dietas extremamente restritivas nesse contexto é como tentar correr com o freio de mão puxado.
Primeiro passo: desinflamar, depois emagrecer
Em vez de começar com uma dieta agressiva, muitos pacientes se beneficiam de uma etapa inicial de “organização interna”:
1. Ajustar alimentação para um padrão mais anti-inflamatório
Aqui, o objetivo não é fazer a “dieta perfeita”, e sim:
- reduzir ao máximo ultraprocessados, refrigerantes, embutidos, frituras frequentes;
- diminuir o excesso de açúcar e farinha refinada;
- aumentar o consumo de vegetais, fibras, proteínas de qualidade e gorduras boas;
- hidratar o corpo, melhorando ingestão de água ao longo do dia.
Esse movimento já ajuda a baixar o “incêndio Bioquímico” que está acontecendo por dentro.
2. Cuidar do intestino
O intestino é um órgão-chave na inflamação.
Quando está desequilibrado, pode:
- prejudicar a absorção de nutrientes;
- aumentar a permeabilidade intestinal;
- favorecer inflamação sistêmica e alteração de humor e energia.
Por isso, em consultório, muitas vezes é necessário:
- ajustar fibras, água e qualidade da alimentação;
- avaliar necessidade de exames, probióticos, suplementação específica, conforme o caso.
3. Melhorar sono e reduzir estresse
Dormir mal e viver sob estresse crônico é uma das formas mais eficientes de inflamar o corpo e atrapalhar o emagrecimento.
Faz parte do processo:
- criar rotina de sono mais regular;
- reduzir estímulos à noite (telas, luz intensa);
- trabalhar estratégias de manejo de estresse (respiração, atividade física, organização da rotina, em alguns casos apoio psicológico).
Muitas vezes, quando o paciente começa a dormir melhor, a fome desregulada e a vontade de doces já reduzem.
4. Introduzir movimento de forma gradual
Um corpo inflamado costuma ser um corpo cansado. Não faz sentido exigir treinos intensos logo no início se o básico ainda não está ajustado.
O passo inicial pode ser:
- caminhadas leves;
- subir escadas em vez de elevador;
- pequenos blocos de movimento ao longo do dia.
À medida que o corpo desinflama, a disposição melhora e é possível evoluir para treinos mais estruturados, preservando e ganhando massa muscular.
E o emagrecimento, quando entra?
À medida que:
- a inflamação reduz,
- o intestino começa a funcionar melhor,
- o sono melhora,
- o estresse diminui,
- o corpo ganha um pouco mais de energia,
o organismo sai do modo defesa e responde melhor às estratégias de emagrecimento.
É nesse momento que:
- ajustes mais específicos de plano alimentar,
- intervenções medicamentosas (quando indicadas),
- protocolos hormonais ou de vitaminas (quando necessários e bem avaliados), passam a funcionar muito melhor e com mais segurança.
Em vez de “guerrear contra o corpo”, o tratamento passa a trabalhar com ele.
Desinflamar não é modinha, é estratégia
Falar em “desinflamar o corpo” não é criar um novo rótulo da internet.
É reconhecer que, para muitos pacientes, o problema não é só quanto comem, mas como o corpo está por dentro.
Por isso, a sequência faz diferença:
- Investigar.
- Desinflamar.
- Emagrecer de forma estruturada.
- Manter o resultado a longo prazo.
Quando procurar ajuda médica?
Vale buscar avaliação com um médico que trabalhe com obesidade e saúde integrativa se você:
- sente que está sempre cansado(a) e inflamado(a);
- tem dificuldade enorme de emagrecer, mesmo fazendo “tudo certo”;
- vive com intestino desregulado, sono ruim e vontade constante de doces;
- já fez várias dietas e sempre volta ao mesmo peso ou mais.
Um acompanhamento individualizado permite entender o que está acontecendo com o seu corpo e montar um plano que respeite a sua realidade, o seu ritmo e a sua saúde.